Avanços tecnológicos, novas demandas e a inserção das novas gerações no mercado de trabalho fizeram com que o ato de trabalhar sofresse mudanças. Uma delas é a incorporação do trabalho remoto nas empresas, principalmente em startups. Apesar da resistência inicial, a tendência é que tal modelo de trabalho cresça. Segundo um levantamento feito pela Citrix, até 2020, 90% de todas as companhias oferecerão alguma modalidade de trabalho a distância. Essa transformação impacta diretamente as estratégias de gestão de pessoas. Agora, as práticas gestacionais encontram novos desafios de gerir equipes que estão há quilômetros de distância.
Dentre outras tarefas, a área de gestão é responsável por difundir a cultura empresarial. Esse é um conceito subjetivo mas que impacta a eficiência e bem-estar de todos. Com o trabalho remoto, há o desafio de não deixar que os valores se percam em meio aos e-mails. Para que isso não aconteça, Luciane Aquino, sócia da aceleradora de negócios Organica, sugere pensar em uma “cultura de trabalho remoto”. Detalhes operacionais como manter a comunicação em tempo real e ter uma conexão de internet apropriada para calls podem gerar um ambiente agradável para os funcionários. “Só depois é possível “cobrar” que o profissional se integre culturalmente. Se ele não é considerado como participante de uma organização, sua aderência com a visão da empresa fica comprometida”, comenta Luciane.
Além dos esforços da empresa, há a diversidade de perfis profissionais que podem se adaptar ou não a tal estilo de trabalho. Segundo Wendell Toledo, CEO da Artluv, artTech que conecta artistas a clientes e amantes da arte, há um perfil específico de colaborador para o trabalho remoto. Características como ter senso de dono, responsabilidade, engajamento e comunicatividade são apontados como fundamentais pelo empreendedor. A opinião é compartilhada com Ariane Camilla, Business Project Manager da Nexo AI, consultoria de inovação e tecnologia. “É um perfil muito mais pessoal, de comportamento e relacionamento interpessoal, do que profissional”, comenta Ariane.
Com tanta autonomia para seus afazeres, os colaboradores ficam mais independentes de seus líderes. Ao invés da situação causar distanciamento, o relacionamento entre as partes se torna mais leve. A liderança continuará a ser exercida, estabelecendo metas e restrições, mas também haverá uma confiança no trabalho remoto. A construção dessa confiabilidade começa logo após a contratação de um profissional. Ao passar alguns dias na empresa, o recém contratado pode captar a cultura empresarial enquanto o gestor conhece o perfil do mais novo integrante da equipe. “Assim você já conhece os tiques, a rotina, os hábitos e percebe se faz sentido ou não ter aquela pessoa como integrante no time”, afirma Ariane.
Além do cultivo de um relacionamento amigável, o líder encara o desafio de integrar os colaboradores remotos na tomada de decisões. O método adotado por Wendell Toledo é o de compartilhar estratégias com suas equipes e deixar que elas se organizem para estabelecer prioridades. “Eventualmente correções de rota são necessárias e entende-se quando algo é urgente e tem que passar na frente de tarefas rotineiras”, explica o CEO. Já Luciane Aquino defende que não há razão para um colaborador remoto não participar de processos de decisão com a mesma intensidade e importância que um presencial.