Uma das grandes características do mercado de trabalho brasileiro é a segregação da estrutura ocupacional. Em outras palavras, a sociedade, ainda muito baseada em estereótipos sexistas e machistas, define as funções preferenciais para cada gênero.

Logo, a desigualdade de gênero no campo profissional é consequência da falta de oportunidades e da concentração das mulheres em setores e ocupações tradicionalmente associados ao sexo feminino, ocasionando, também, em desigualdade salarial.

A desigualdade de gênero no mercado de trabalho

Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no 4ª trimestre de 2020, a taxa de mulheres sem ocupação formal era de aproximadamente 55%, enquanto para o homem era abaixo dos 46%. Mesmo no caso do emprego formal, na maioria das empresas não há oportunidades igualitárias na contratação, permanência e ascensão profissional entre homens e mulheres.

De acordo com matéria publicada no portal de notícias do IBGE, em 2019 a taxa de ocupação de mulheres em cargos gerenciais era de apenas 37,4%, enquanto de homens de 62,6%.

Além disso, as mulheres receberam cerca de 77,7% dos rendimentos recebidos pelos homens exercendo a mesma função: enquanto o rendimento médio mensal dos homens era de R$ 2.555,00, o das mulheres era de R$ 1.985,00.

A matéria apontou também que a desigualdade salarial é ainda maior em grupos ocupacionais com maiores rendimentos, como por exemplo, grupos de diretores e gerentes, no qual as mulheres receberam cerca de 61,9% dos rendimentos recebidos por homens.

Não obstante, mesmo em situação de igualdade de posição no mercado de trabalho, as mulheres dedicam muito mais tempo aos trabalhos gerais domésticos e com a família, notadamente com crianças e idosos, do que os homens. Segundo o IBGE, o tempo dedicado perfaz quase o dobro. Enquanto os homens dispensam cerca de 11 horas semanais, as mulheres, por sua vez, dispensam cerca de 21,4 horas semanais para tais tarefas.

Com isso, além da desigualdade de gênero e da desigualdade salarial, as mulheres ainda vivem uma acentuada multiplicidade de papéis. As duplas e triplas jornadas enfrentadas diariamente pelas mulheres acabam, muitas vezes, trazendo consequências emocionais, tais como: sofrimento, tensão, ansiedade, cobranças, medo e depressão.

Assim sendo, a inserção das mulheres no mercado de trabalho e a busca de igualdade de condições ocorre à custa de muitos sacrifícios.

O que pode ser feito para diminuir a desigualdade de gênero no mercado de trabalho?

Hoje é possível encontrar muitas plataformas de apoio para que empresas aperfeiçoem a representatividade feminina em todos seus níveis de gestão.

Em 2018, por exemplo, a  EY Building better working world (EY Construindo um melhor mundo de trabalho, em tradução livre),  em conjunto com a ONU Mulheres, desenvolveu a ferramenta Action Point Assessment (Avaliação do ponto de ação, em tradução livre) que, além de seguir premissas dos objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, auxilia as empresas na promoção da diversidade e inclusão das mulheres no ambiente corporativo.

Algumas das ações recomendadas pela plataforma são:

  1. apossar-se do problema, encarar os fatos e aceitar que a falta de diversidade é um problema crítico nos negócios e que a solução deve passar a ser uma pauta na sala de reunião;
  2. medir o problema, realizar análises e métricas formais para medir a proporção de mulheres em cada nível da sua organização, a diferença de remuneração e como o preconceito inconsciente interfere nas contratações e promoções;
  3. criar um pipeline, colocar em prática programas que identifiquem, nutram e  promovam talentos femininos. Perguntar às mulheres quais são as maiores barreiras ao desenvolvimento de carreira e tomar medidas para derrubá-las;
  4. promoção de mulheres e diversidade, ou seja, comprometer-se em defender a diversidade de gênero e passar a considerar mais candidatas do sexo feminino e;
  5. adotar as melhores práticas, implementar programas de treinamento e apoio especificamente para desenvolver líderes mulheres e adotar práticas de outras organizações que aceleram a diversidade de gênero.

Outro fator que auxilia na equidade de gênero nas empresas é o empoderamento feminino. Em parceria, a Onu Mulheres e o Pacto Global propõem os Princípios de Empoderamento da Mulheres.Essas Entidades asseguram que: empoderar as mulheres para que participem integralmente de todos os setores da economia e em todos os níveis de atividade econômica é essencial para:

  1. Construir economias fortes;
  2. Estabelecer sociedades mais estáveis e justas;
  3. Atingir os objetivos de desenvolvimento, sustentabilidade e direitos humanos internacionalmente reconhecidos;
  4. Melhorar a qualidade de vida para as mulheres, homens, famílias e comunidades; e
  5. Impulsionar as operações e as metas dos negócios.

Grandes marcas já estão aderindo práticas de empoderamento de mulheres dentro de suas empresas, como exemplo da Unilever, Avon, Boticário, UBER, Renault, entre outras.

A equidade de gênero não é um compromisso estritamente político social, é também um compromisso das empresas. Quando o mundo corporativo oferece os mesmos direitos e oportunidades para os homens e mulheres, cria-se, automaticamente, um ambiente de diversidade, criatividade, inovação e eficiência em atender às necessidades do mercado. Com isso se contribui para uma economia mais forte e sustentável.

[Fonte: https://institutoaurora.org]