Kelly Coelho é gerente-executiva de RH, Comunicação, Segurança do Trabalho e Facilities da SuperVia.
Sociedade pode ser definida como um conjunto de seres que convivem de forma organizada. A palavra vem do Latim societas, que significa “associação amistosa com outros”. A sociedade é diversa, formada por múltiplas personalidades, experiências de vida, raças, valores próprios, crenças e etnias. E as empresas devem ser sempre o reflexo da sociedade. Sendo assim, a promoção da diversidade e inclusão nas companhias precisa deixar de ser vista como tendência e passar a ser tratada como uma necessidade. Na prática, incluir a diversidade no mundo corporativo é dar oportunidade para todos, construindo um ambiente de trabalho propício à troca de experiências, à criatividade e, consequentemente, ao melhor desenvolvimento do negócio.
E ser diverso não basta. É indispensável ser inclusivo. O entendimento atual é que devemos abandonar a ideia de que apenas um determinado perfil atende a uma demanda para, assim, ampliar os horizontes da equipe. Times diversos, em que caibam em harmonia entre homens, mulheres, PCD, pessoas LGBTQIA+, pretos, brancos e egressos de todas as classes sociais, acabam criando um ambiente de trabalho acolhedor, com menos julgamentos e com mais abertura para que todos manifestem os seus reais pontos de vista. Um ambiente inclusivo é mais criativo porque a reunião das mais diferentes habilidades (skills), resultado da vivência de cada um, é capaz de produzir soluções muito mais ágeis e interconectadas para desafios que surgem a todo momento nas organizações.
Esses conceitos são essenciais para sustentar a base da cultura organizacional, que precisa ser coesa, fazer o colaborador se sentir valorizado, parte da companhia e em sincronia com o que ela representa. Afinal, quem não gosta de se sentir acolhido e sem nenhum tipo de preocupação por ser quem é, podendo executar o seu trabalho com tranquilidade? Com esta liberdade, o clima organizacional também melhora, pois os profissionais podem ser eles mesmos, sem medo de expor suas preferências, opiniões, crenças e, acima de tudo, sua identidade.
Não podemos esquecer que estamos vivendo um mundo pós-pandemia, que trouxe mudanças significativas. O colaborador de antes e durante a quarentena, não é mais o mesmo. Ele adquiriu novos hábitos, uma nova rotina e novos valores. Com a implementação do modelo remoto ou híbrido de trabalho, há uma nova forma de atuar. Com a mudança de contexto, alteram-se também os costumes, mesmo para aqueles que voltaram ou nunca deixaram de exercer suas funções de modo totalmente presencial. Sendo assim, as empresas precisam se readaptar, bem como rever a cultura organizacional para estar adequada a essa nova realidade. Devemos lembrar que a cultura é formada pelos valores e normas, mas também pelas crenças e hábitos, que mudaram durante a pandemia.
É necessário buscar conceitos e novos métodos de gestão, criar rotinas de interação e compartilhamento das ações mais importantes para o desenvolvimento da cultura organizacional. Nesse cenário, vale destacar a importância de feedbacks e alinhamentos, para que todos os profissionais, independentemente de onde estejam, fiquem conectados e conheçam a percepção das lideranças sobre seus potenciais e possibilidades. Além disso, alguns valores, como empatia e confiança, passaram a ter mais peso nas organizações no pós-pandemia. A empatia é o caminho mais acertado para criar ambientes inclusivos, onde todos se sintam à vontade e acolhidos.
Quando o colaborador percebe que a empresa entende e confia nele, ele se sente motivado e orgulhoso, ao mesmo tempo em que reforça sua responsabilidade nas atividades em que exerce naquele lugar. Outra questão que deve ser valorizada cada dia mais é a de ouvir os colaboradores, escutar quais são os seus receios, desafios pelos quais estão passando e de que forma a empresa pode ajudá-los. Tais feedbacks muitas vezes contribuem, inclusive, para que o colaborador busque novos caminhos em suas vidas pessoais, tornando os laços com a empresa cada vez mais fortes.
Também é importante lembrar que a pandemia trouxe uma preocupação com a saúde mental dos trabalhadores. Dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) de junho de 2022 mostram que a depressão e a ansiedade aumentaram em mais de 25% apenas no primeiro ano da pandemia. Assim, as empresas também têm como missão voltar os olhos para suas políticas internas de saúde, focando na redução do estresse e prestando o suporte adequado às necessidades de cada colaborador. Nesse sentido, é importante manter diálogos livres de tabus e com uma abordagem mais individualizada. Diante de tudo isso, podemos dizer que a área de RH se tornou ainda mais estratégica para as empresas: afinal, os colaboradores são os principais ativos de uma organização.
Além de cuidar da saúde mental dos colaboradores, o RH precisa buscar continuamente estimular a inteligência emocional. Para isso, é importante incitar bons procedimentos por parte dos líderes; oferecer treinamentos; manter o canal de diálogo aberto entre os colaboradores com seus líderes, bem como com o próprio setor.
Na SuperVia (concessionária que administra os trens urbanos do Rio de Janeiro), por exemplo, temos colaboradores que trabalham na área administrativa e aqueles que ficam direto “no trecho”, ou seja, atuam nas estações e na linha férrea. A forma de comunicar com os colaboradores tem sido a chave para que todos sejam alcançados. Mais do que estampar os comportamentos e valores desejados em cartilhas e comunicados, é preciso fazer com que eles se sintam incorporados ao dia a dia da companhia.
A cultura organizacional deve estar em constante evolução, não apenas como tema estratégico para melhoria da imagem do negócio. Para ser o guia e balizador de todo o processo, precisa ter uma ação efetiva, vinculada aos pilares institucionais e práticas rotineiras da organização. É também uma forma de se posicionar no mercado, abraçando importantes causas sociais que impactam positivamente a comunidade e melhoram a saúde física e mental da população. Esse é o caminho para promover um verdadeiro senso de pertencimento de todos os colaboradores.
[Fonte: https://www.mundorh.com.br]