No Brasil existem aproximadamente seis milhões de empresas, das quais 90% são consideradas negócios familiares ou empresas familiares, segundo levantamento do SEBRAE. Tipicamente, por empresas familiares se classificam os negócios cujo controle é exercido por pessoas de um mesmo grupo familiar, e em que as posições executivas (ou grande parte delas) são também ocupadas por membros da família. Há empresas familiares com ações negociadas em bolsas de valores, assim como há negócios familiares de qualquer porte, desde a pequena empresa tocada na garagem de casa até grandes grupos multinacionais, como a C&A, Wal-Mart, Mars e Ford. “Neste cenário de crise, as empresas familiares de pequeno e médio porte são as que mais sofrem, por diversos fatores. O principal deles é a falta de cultura empresarial, pois frequentemente não se dão conta da importância de possuir ferramentas de planejamento e controle e de investir na qualidade e capacitação da equipe de suporte.” Explica Fábio Yamamoto, sócio da Tiex, consultoria de gestão corporativa e financeira. Negócios familiares que hoje são modelos de gestão e longevidade, e que já sobreviveram a diversas gerações, passaram por mudanças em comum no curso da criação e do desenvolvimento de uma cultura empresarial. Fábio Yamamoto, sócio da Tiex, destaca 5 dos principais aspectos para essa evolução corporativa: 

1. Profissionalização O processo de profissionalização é uma via de mão única sem retorno. Para aquelas empresas que buscam atingir estágios avançados de maturidade de seus negócios, necessariamente há que se buscar a profissionalização de sua administração. Contudo, importante frisar que isso não significa, necessariamente, buscar profissionais fora dos quadros da companhia para preencher posições estratégicas, tampouco retirar os familiares da empresa. Obviamente este também é um caminho válido, mas muitas vezes cria barreiras culturais muito mais difíceis de serem transpostas. A profissionalização passa obrigatoriamente pela capacitação dos membros da família, pela criação de ferramentas de gestão e de um sistema de controles internos, processos e políticas que não dependam apenas de indivíduos. O processo de transição entre as gerações, especialmente quando falamos da passagem dos fundadores para a segunda geração de membros familiares, passa necessariamente por este processo de profissionalização. 

2. Eliminação da confusão patrimonial Outro fator bastante comum a este tipo de negócio é a confusão entre os limites da pessoa física e jurídica. É preciso ter clara distinção entre a entidade e o(s) dono(s) para que não ocorram abusos e atritos entre os familiares. É necessária a criação de mecanismos e regras bastante claras para que os negócios não estraguem o almoço de domingo. Rupturas familiares são bastante comuns quando os negócios passam a tomar proporções em que é impossível manter os olhos sobre tudo, gerando desconfiança, destruindo relações familiares e pondo em risco o futuro do negócio. 

3. Visão de longo prazo Poucos são os negócios familiares, exceto claro grandes grupos empresariais como os já citados, que dão a devida atenção a um planejamento estratégico de alto nível. É vital para as empresas pensar em perenidade, não ser imediatista e entender os impactos que as ações presentes terão sobre o futuro da empresa.Imaginar como a empresa será e onde estará em horizontes de tempo de 5, 10, 20 anos não se trata apenas de sonhar, mas de planejar o futuro da empresa e sua continuidade. 

4. Atenção à estrutura de suporte As áreas administrativas de uma empresa são usualmente vistas como centros de custo, isto é, um mal necessário, e pouca ou nenhuma importância são atribuídas às áreas de suporte. Contudo é de extrema relevância a manutenção de uma estrutura adequada de back office; não só é imprescindível para a adequada manutenção dos aspectos administrativos e operacionais, como pode tornar-se um centro de resultados à medida que pode e deve ser utilizado para evitar gastos desnecessários, conter perdas financeiras e realizar o adequado planejamento do uso dos recursos. 

5. Capacitação de seus colaboradores Profissionalizar os membros familiares é importante, mas não é suficiente. Investir na capacitação de seu quadro de colaboradores é imprescindível para que toda a estrutura de controles e ferramentas de gestão funcione de forma adequada. Capacitar os colaboradores também auxilia no aspecto motivacional, refletindo os valores da companhia através do reconhecimento de seu pessoal. Com a conjugação de todos esses cinco fatores discorridos, cria-se um cenário interno mais favorável para que a empresa familiar possa evitar oscilações no cenário econômico, uma vez que ela passará a deter um ativo organizacional e humano mais preparado para enfrentar adversidades. Por óbvio, concatenar todas essas engrenagens para que funcionem de forma harmoniosa é o principal desafio dessa modalidade de empresas. É sim um enorme desafio, pois, essencialmente, trata-se de mudar a cultura organizacional, o que significa mudar as pessoas e suas convicções. Entretanto, trata-se de um processo evolutivo natural para empresas que buscam perenidade, e quanto antes esse processo se iniciar, maiores são as chances de sucesso.